terça-feira, 16 de outubro de 2018


Quero conversas longas. Nos dias de chuva, você e eu embaixo dos lençóis com preguiça de levantar, cobertor e travesseiros por todos os lados. Sempre gostei do cheiro do vento chuvoso, sabia? Quero falar de tudo, de política, nossas afinidades musicais, sobre o filme que acabou de lançar e sobre o livro que deixou um vazio no peito ao fechar a última página. Quero me ver em você nesses pequenos detalhes. Você enrosca sua perna na minha e desce a mão pelo meu braço, depois sobe por baixo da blusa acomodando ela no meio das minhas costas. Quero falar também sobre nosso dia, sobre o seu chefe, sobre como o metrô estava lotado e como aquele cara com violão cantando a música que eu te apresentei me fez sorrir no caminho. Você sorri de me ver corando e desviando o olhar ao deixar escapar um detalhe tão pequeno mas que diz tanto sobre o quanto eu já sou sua. Mudo de assunto pra começar com perguntas bobas e complexas que não tem respostas mas fingindo tratar todas com muita importância. Dou risada da sua cara porque é isso que eu quero, ver você desenvolver teorias mirabolantes só pra não me decepcionar. Aproveito pra beijar sua clavícula que está aparecendo pela gola da camiseta e subo beijando traçando a linha da mandíbula. Você inspira profundo. Começo a te perguntar sobre super heróis e quais superpoderes escolheriamos para aliviar os dias. E você me puxa pra perto reclamando que não vai escolher porque eu escolho vários poderes ao invés de um só e não é justo. Você me abraça com carinho e me pergunta sobre as cicatrizes que eu trago e quais ainda doem, mas eu só sorrio e disfarço, tá ouvindo que delicia a chuva batendo na janela do teu quarto? Quero saber dos seus planos para o futuro pra descobrir sem verbalizar se estou inclusa neles. Você vai tirando minha blusa e eu te seguro com um pouco mais de força porque anseio pela resposta. Você sorri e me olha, e nessa fração de segundos, eu sei tudo o que você quer me dizer. Vem cá, porque além de beijar minha barriga eu deixo você beijar meu pescoço, minha boca, minha alma. E sem falar mais nada, a gente já disse tudo. 
Ando com preguiça das pessoas. Tenho preguiça de quem não se responsabiliza por nada. Preguiça de quem não sabe falar e prefere fazer joguinhos emocionais a deixar tudo preto no branco sendo sincero. A verdade é que irresponsabilidade emocional me cansa, de quem esquece que é questão de honestidade na hora de vir e na hora de ir também. De quem prefere sumir a somar, a deixar as coisas leves. Não é sobre o que você quer, tudo bem se alguma coisa não se encaixar na sua vida naquele momento, mas é sobre como você passa a mensagem para o próximo, é sobre ser transparente. Sempre exigi das pessoas a sinceridade e clareza que eu ofereço e muitas vezes me culpei por isso, mas parei e me desculpei quando vi que não sou eu a errada. Sou intensa e ansiosa, não nego. Viveria inúmeras vidas em uma só e quero tudo pra ontem. Mas também sou calmaria e respeito meu tempo. Sou feita pra quem não tem tempo de perder tempo, pra quem não tem medo de se abrir. Minha alma é despida pra quem realmente quiser se aproximar e não gosto de enganar. Se não cabe em mim, eu falo. Se eu quero, eu fico. Percebi que preciso de coragem para ter maturidade emocional e lidar com quem não tem em ser corajoso. Não deixo mais de falar o que eu sinto por medo de alimentar ego, quero sair de tudo como entrei, leve. Não aceito mais nada pela metade, nem que seja só um beijo, quero um beijo inteiro. Não deixo ninguém me arrancar de mim.